Imagine só, que vida teria
Dois-três-um e de novo esse dia
Que parece mais eterno do que pude
Conceber dentro de mim
Cuspir do peito aquelas palavras
Seguidas de vozes que não reconheci
Internas. Externas, enfilei-ra-das
Acompanhadas de tudo aquilo que achei ser
Não fui. De fato, me fui muito pouco
Todos os dias em que podia ter acordado e
Escolhido estar em mim. E não tomei
As Rédeas, pesadas e grossas, diferentes daquelas
Aquelas outras grosserias que a vida já me deu
Não me entendendo mal, a vida nem sempre foi fácil
Também houve dor. Solidão. Perda
De mim e do outro; de sentido maior, de graça esperada
Aí fechei as malas e parti. Até retornar e a segunda-feira
Continuar sendo ela. E a terça-feira, continuar distante
Daquele dia sagrado. Aquele sábado de manhã com sol na cara
Corpo quente e memórias. Planos da semana
E os motivos que voltam; os ventos do norte movendo moinhos
A música do Milton tocando na sala.
Textos que nunca vou ler, digitados de maneira quase hostil
Sem pensar muito.
Dedos, língua, pensamentos longínquos e gritos internos
E o que me resta é não estar vencido. Eu escolho ser-eu
De novo. Só pela graça de errar.
Em tudo aquilo esperado. Não tenho esperado muito. É problema de vocês.
Quem está com fome, que tempere a carne, corte, desfie, assado e quase queimando
Sinto esse cheiro outra vez. O gosto de ser impura
Por querer.
E sentir o sabor de tomar as rédeas de mim sem expectativas
Não devo, de fato, nada a vocês
Fui eu mesma quem sequei minhas lágrimas
Varri minha sujeira. Recolhi minha bagunça
Me mudei, de novo e de novo.
Fui eu mesma que paguei o preço
De Ser quem eu sempre fui
Carreguei o peso das máscaras que vesti
Dos sapatos que não quis
Do chão árido, depois úmido, depois mole
Que eu pisei
Fui eu mesma quem tocou a música preferida
Ainda sem saber, depois de rolar milhares de vezes
A tela daquele celular. Que fui eu mesma quem comprei
Abri o sorriso no dia seguinte, pensei muito
Em mim e neles; naqueles outros olhos
Naqueles outros pés
Naquelas outras falhas.
Mas aí não fui eu quem concebi
Me contive a conceber meus próprios defeitos, aceitando todos os seus
Sem revolta, sem remorso, sem culpa
Me permiti relações mais limpas, menos pausadas
Relações eternas em seu tempo.
Não faço questão que andem ao meu lado, porque eu sei andar sozinha
Mas gosto da sua companhia o suficiente para pedir que fique
Para mais uma risada, um gole, um café, um trote
E para eu te desapontar de novo, até somarmos todos nossos erros
E perceber que a gente é bem humano
Ainda bem.
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