ArTentos

& Ardidos

18.01.2025 – Caçadora

Imagine só, que vida teria

Dois-três-um e de novo esse dia

Que parece mais eterno do que pude

Conceber dentro de mim

Cuspir do peito aquelas palavras

Seguidas de vozes que não reconheci

Internas. Externas, enfilei-ra-das

Acompanhadas de tudo aquilo que achei ser

Não fui. De fato, me fui muito pouco

Todos os dias em que podia ter acordado e

Escolhido estar em mim. E não tomei

As Rédeas, pesadas e grossas, diferentes daquelas

Aquelas outras grosserias que a vida já me deu

Não me entendendo mal, a vida nem sempre foi fácil

Também houve dor. Solidão. Perda

De mim e do outro; de sentido maior, de graça esperada

Aí fechei as malas e parti. Até retornar e a segunda-feira

Continuar sendo ela. E a terça-feira, continuar distante

Daquele dia sagrado. Aquele sábado de manhã com sol na cara

Corpo quente e memórias. Planos da semana

E os motivos que voltam; os ventos do norte movendo moinhos

A música do Milton tocando na sala.

Textos que nunca vou ler, digitados de maneira quase hostil

Sem pensar muito.

Dedos, língua, pensamentos longínquos e gritos internos

E o que me resta é não estar vencido. Eu escolho ser-eu

De novo. Só pela graça de errar.

Em tudo aquilo esperado. Não tenho esperado muito. É problema de vocês.

Quem está com fome, que tempere a carne, corte, desfie, assado e quase queimando

Sinto esse cheiro outra vez. O gosto de ser impura

Por querer.

E sentir o sabor de tomar as rédeas de mim sem expectativas

Não devo, de fato, nada a vocês

Fui eu mesma quem sequei minhas lágrimas

Varri minha sujeira. Recolhi minha bagunça

Me mudei, de novo e de novo.

Fui eu mesma que paguei o preço

De Ser quem eu sempre fui

Carreguei o peso das máscaras que vesti

Dos sapatos que não quis

Do chão árido, depois úmido, depois mole

Que eu pisei

Fui eu mesma quem tocou a música preferida

Ainda sem saber, depois de rolar milhares de vezes

A tela daquele celular. Que fui eu mesma quem comprei

Abri o sorriso no dia seguinte, pensei muito

Em mim e neles; naqueles outros olhos

Naqueles outros pés

Naquelas outras falhas.

Mas aí não fui eu quem concebi

Me contive a conceber meus próprios defeitos, aceitando todos os seus

Sem revolta, sem remorso, sem culpa

Me permiti relações mais limpas, menos pausadas

Relações eternas em seu tempo.

Não faço questão que andem ao meu lado, porque eu sei andar sozinha

Mas gosto da sua companhia o suficiente para pedir que fique

Para mais uma risada, um gole, um café, um trote

E para eu te desapontar de novo, até somarmos todos nossos erros

E perceber que a gente é bem humano

Ainda bem.

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