SOBremim

Dentre os cercados do sobre e sob encontro um ponto de vida que anseia pelo melhor que conhece. O ponto sou eu. Não resido mais dentre os rótulos que me foram apresentados intencionalmente bem, mas que não fazem sentido para meu interior. Busquei por muito tempo habitar nos espaços que encontrei e que são semelhantes de alguma forma singular ao que acredito ser, mas meu acreditar é mutável igualmente ao meu ponto, o redor que escolho raramente faz sentido por mais tempo do que algum pedaço insignificante do meu insignificante eterno. As cartas escritas nos aniversários apontam pontos de vida de diferentes pessoas que coexistem em mim. O ontem criou uma pessoa que o hoje não reconhece e firmar minha fé e minhas decisões num só lugar me soa vago.

A inveja já me atordoou quando olho para pessoas que sabem o que são e para onde vão e que conseguem depositar todas suas versões num ponto: Deus, família, metas, amor, alguém. Ao me sentir deslocada quando olho até mesmo para o eu que não existo mais penso que talvez este nunca tenha existido. O que sou se não mais a soma do meu exterior e a leitura que me foi ensinada quando soletrei minhas primeiras letras e quando pronunciei minhas primeiras palavras? Olho ao meu externo e enxergo minha mãe com uma fé no abstrato de Deus invejável e com um propósito de vida que a faz acreditar que a melhor escolha é escolher aquilo que seu mentor espiritual escolheria. Olho para o externo novamente e com o anseio de ter um modelo para seguir tento encaixar minha breve existência em algo que faça sentido, mas nada faz sentido por muito tempo. O trabalho de hoje pouco importa e o de amanhã hoje parece importar mais do que o de ontem, ao mesmo tempo em que calculo meus dias e a tênue linha do que posso ser e do que realmente vou. Cálculo estranhamente impossível porque envolve elementos que não conheço mais: o que fui, o que penso ser e o que penso ser somado com o que realmente serei.